Trump incentiva protestos contra restrições da covid-19 em estados importantes para as eleições
Manifestantes contra restrições impostas pelos governadores por causa do coronavírus juntaram-se em Austin, no Texas, sem quaisquer medidas de distanciamento social.
Dezenas de pessoas manifestaram-se contra medidas de “ficar em casa” este sábado em algumas cidades americanas, de Austin, Texas, a Huntington Beach, na Califórnia, sem observar qualquer distanciamento social exigido para desacelerar a transmissão do novo coronavírus.
Isto depois de o Presidente Donald Trump ter incentivado a revolta contra medidas em três estados governados por democratas e que são “swing states”, ou seja, podem votar republicano ou democrata nas eleições de Novembro. Trump escreveu no Twitter, em maiúsculas: “Libertem o Michigan! “Libertem o Minnesota!” e “Libertem a Virgínia!”. Referindo-se directamente aos manifestantes, Trump dissera antes que estes lhe pareceram “muito responsáveis”.
JJ MacNab, investigadora do programa de extremismo da Universidade George Washington, resumiu, também no Twitter: “Trump está efectivamente a fomentar distúrbios em estados onde os governadores são democratas”.
O governador do estado de Washington, Jay Inslee, condenou o apelo à “revolta interna” feito por Trump: “As declarações do Presidente encorajam acções ilegais e perigosas. Ele está a pôr milhões de pessoas em risco de contrair a covid-19”, disse Inslee, também no Twitter. “Os seus apelos para ‘libertar’ estados podem levar a violência, já o vimos antes”, declarou Inslee. Podemos ignorar muito do barulho que vem da Casa Branca”, afirmou Inslee. “Mas estes tweets do Presidente são uma ameaça a vidas americanas”.
Os protestos têm juntado, diz a NBC, activistas contra a vacinação, milícias anti-governo, fundamentalistas religiosos e supremacistas brancos. Uma das manifestantes em Huntington Beach tinha um cartaz dizendo: “distanciamento social é igual a comunismo”.
Antes, alguns participantes nestas manifestações foram fotografados com armas, bandeiras da Confederação (dos 13 estados sulistas que defendiam a escravatura e lutaram contra a União, dos estados do Norte, na Guerra Civil entre 1861 e 1865), outras de apoio a Trump, e palavras de ordem contra as medidas dizendo que estas não respeitam a constituição dos EUA.
A estação de televisão NBC conta que vários grupos extremistas viram nos tweets de Trump apelando à “libertação” dos estados um apelo à luta. No Twitter, há vários representantes de grupos pró-Trump que têm defendido um conflito armado, a que têm chamado “the boogaloo”. O uso do termo teve um pico nas redes sociais e fóruns como o 4chan depois dos tweets do Presidente.
Observadores de grupos de extrema-direita já tinham alertado para um aumento de actividade durante a pandemia.
"Lock her up!”
O Michigan tem sido um foco especial de protestos a favor do relaxamento das medidas de distanciamento social, que são das mais estritas no país. A governadora Gretchen Whitmer, que é vista como uma potencial vice do que será o candidato democrata à presidência, Joe Biden, prolongou as medidas até ao final de Abril.
Nas manifestações contra a governadora, alguns gritaram “lock her up!” [algo como “ponham-na na prisão”], as palavras de ordem que foram entoadas vezes sem conta contra a concorrente de Trump, Hillary Clinton, na campanha para as eleições de 2016.
Esta semana, Trump ameaçou reverter medidas decretadas pelos governadores, mas não tem poder para isso.
O Presidente anunciou um plano para reabrir a economia dos estados, que foi criticado por especialistas de saúde por ser demasiado vago, e alguns governadores disseram que só o fariam quando houvesse condições como terem um número de testes de despistagem da doença suficientes - um exemplo foi o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo.
Cuomo, que tem batido na tecla dos testes, envolveu-se numa troca de galhardetes com Trump - o governador de Nova Iorque dizia numa entrevista televisiva que precisava de mais testes, e Trump tweetou que Cuomo devia “queixar-se menos e fazer mais”. Ao que o democrata, ainda na televisão, retorquiu de seguida que se Trump está “em casa no sofá a ver televisão, devia talvez levantar-se e ir fazer o seu trabalho”.
O governador deu neste sábado notícias de uma descida das mortes diárias no estado de Nova Iorque - 540 na sexta-feira, menos do que as 630 do dia anterior, e o menor número das últimas duas semanas, apontou. Na véspera, Cuomo classificava as mortes em Nova Iorque como “avassaladoras na sua dor e luto e tragédia”.
Nova Iorque tem mais de metade do total de mortes nos EUA, que são mais de 35 mil. Os EUA são o país do mundo com maior número de casos confirmados de infecção, mais de 700 mil.